Vices dos candidatos ao governo de Pernambuco podem ajudar a puxar votos
Antes, os vices eram indicados para cumprir um papel de bastidor. Foto: Divulgação |
A posse de Michel Temer (MDB) como
presidente, a partir de 2016, e toda a articulação feita por ele para tirar
Dilma do poder deixou os candidatos e eleitores em alerta sobre outras questões
importantes, como a própria afinidade política e a lealdade dos vices
O
recente impeachment da presidente Dilma Rousseff (PT) – vivo no repertório da
militância, da oposição e da base governista – também dobrou o peso do
candidato a vice-governador (e vice-governadora) na disputa de 2018. Os vices
normalmente eram indicados para cumprir um papel de bastidor e assumir a missão
número 1 do cargo: ser discreto e trazer apoios.
Contudo,
a posse de Michel Temer (MDB) como presidente, a partir de 2016, e toda a
articulação feita por ele para tirar Dilma do poder deixou os candidatos e
eleitores em alerta sobre outras questões importantes, como a própria afinidade
política e a lealdade. Quem é o nome que pode assumir, por exemplo, o principal
cargo do estado na ausência do seu titular se ele viajar, for afastado ou
adoecer? Ele agrega?
Para
o cientista político Ernani Carvalho, doutor em Ciência Política pela
Universidade de São Paulo (USP) e professor da Universidade Federal de
Pernambuco (UFPE), apenas dois candidatos majoritários construíram uma
capilaridade eleitoral, até esse momento, que chamam a atenção do eleitor. Na
avaliação dele, quem mais somou à disputa foram os escolhidos a vice do
governador Paulo Câmara (PSB) e do senador Armando Monteiro Neto (PTB), ambos
postulantes ao Palácio das Princesas.
Para
Ernani, a indicação da ex-prefeita de Olinda Luciana Santos (PCdoB) na chapa de
Paulo trouxe um verniz de esquerda ao governador - que votou em Aécio Neves em
2014 -, mas o principal impacto de sua escolha foi a mudança das alianças no
cenário nacional. Ernani acredita que, se Luciana não tivesse sido a
alternativa, dificilmente o PCdoB teria retirado a pré-candidatura de Manuela
D´Ávila (PCdoB) em nome da aliança com Luiz Inácio Lula da Silva.
Ernani
Carvalho lembra que Luciana é presidente nacional do PCdoB e teve um papel
decisivo na aliança entre o PT e o PCdoB nacionalmente. Luciana é apontada como
articuladora política, e a militância da legenda tem organicidade, ou seja, é
atuante nas ruas e redes sociais. “O PCdoB cogitou fechar com a candidatura de
Ciro Gomes (PDT) e foi levado para o PT com essa costura e Ciro ficou isolado.
Luciana colaborou com a candidatura majoritária do PT (de Lula) e o nome dela
vai dar mais competitividade à chapa de Paulo Câmara”, avalia.
Doutor
em Ciência Política pela UFPE e professor da Faculdade Damas, Elton Gomes, por
sua vez, fez uma análise do nome de Fred Ferreira (PSC) para vice da disputa
estadual. Segundo ele, como Fred integra a família dos Ferreira, que tem
influência no eleitorado evangélico da Região Metropolitana do Recife, Armando
teve vantagem com a escolha. De acordo com Elton, o petebista não tem a mesma
inserção política de Paulo no Grande Recife, seus candidatos ao Senado têm base
no interior, e o vice tem inserção nas comunidades urbanas mais carentes.
“Existe
toda uma literatura acadêmica que mostra que o voto evangélico é forte, porque
é um voto certo, fiel e barato. Muitos eleitores votam por instrução do pastor,
de pessoas com proeminência naquela comunidade de fé. Isso dá um poder de
aglutinação muito grande. O voto evangélico é, ao mesmo tempo, concentrado e
disperso. É concentrado porque é fiel (constituído na maior parte de pessoas
muito carentes), mas é disperso porque tem várias igrejas espalhadas”.
ESTRUTURA
Segundo
Elton Gomes, os candidatos a vice de Maurício Rands (PROS) e Julio Lóssio
(Rede), também podem ajudar os majoritários, mas não o suficiente para eles
conseguirem barrar a estrutura de campanha de Paulo e Armando - o tempo de
televisão e o apoio dos prefeitos.
“Julio
Lóssio é muito bom em debates, ele consegue falar de maneira simples para o
eleitor, o que é uma grande qualidade, mas ele não tem tempo de televisão,
capilaridade ou apoio de partido. Isabella também traz representatividade,
especialmente por ser uma mulher, mas eles têm que correr contra o tempo e
estão numa coalizão pequena”, afirma. Com uma avaliação diferente, Rands
acredita que “essa eleição não vai ser a eleição das estruturas, porque as
estruturas estão desgastadas, vai ser do boca a boca, dos grupos de WhatsApp,
dos posts, vídeos, áudios e conteúdo”.
Única
candidata ao governo que tem uma chapa totalmente formada por mulher, Dani
Portela (PSol), por sua vez, defende a importância da identidade entre a
majoritária e a vice. “Nós, do PSol, entendemos que uma chapa indica um governo
compartilhado. E é por isso que nós trabalhamos dentro do partido o conceito de
cogovernadora. Minha companheira Gerlane não é uma figura decorativa no nosso
processo. Nós iremos governar efetivamente juntas”, avisou. Jair Pedro não foi
localizado até o fechamento da edição.
Quem são os vices?
Luciana Santos (PCdoB), vice de Paulo
Câmara (PSB)
Ex-deputada
estadual, ex-prefeita de Olinda por dois mandatos e atual presidente nacional
do PCdoB. Ela é engenheira eletrônica, está filiada à legenda comunista desde
1987 e exerce o mandato de deputada federal desde 2011.
Fred Ferreira (PSC), vice de Armando
Monteiro Neto (PTB)
Vereador
do Recife, iniciou a militância ao coordenar as últimas campanhas eleitorais
dos cunhados André Ferreira (PSC), deputado estadual e candidato a federal, e
Anderson Ferreira (PR), prefeito de Jaboatão dos Guararapes.
Luciano Bezerra (Rede), vice de Julio
Lóssio
Foi
vereador de Santa Cruz do Capibaribe e secretário de Planejamento, Orçamento e
Gestão do município. Ele representa o Agreste na chapa, é contador e advogado.
Presta serviço a várias empresas do polo de confecções.
Gerlane Simões (PCB), vice de Dani
Portella (PSol)
Feminista,
educadora social e cientista social. Iniciou a militância política na
adolescência, dentro do movimento Hip Hop. Em seguida, ingressou no movimento
negro e em um movimento de direito à moradia. Está no PCB desde 1998.
Isabella de Roldão (PDT), vice de
Maurício Rands (PROS)
Foi
vereadora do Recife, de 2012 a 2013, fez parte da bancada de oposição da Câmara
Municipal e chegou a ser vice-líder do bloco, como uma voz ativa. É formada em
direito e foi presidente da Ação da Mulher Trabalhista.
Jair Pedro (PSTU), vice de Simone
Fontana (PSTU)
É
servidor público, com ensino médio, e ficou conhecido por representar o PSTU em
várias eleições, todas com candidaturas olímpicas. Já concorreu, por exemplo, a
prefeito do Recife em 2008 e 2012 e governador em 2010 e 2014.
DP
Da Redação
Blog Pão de AçucarNET / Notícias e Informações com Imparcialidade
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