Ação controlada, o terror dos corruptos
Técnica de investigação incluída na lei brasileira pelo então deputado Michel Temer estreou com estrondo na Lava-Jato
Por Leonardo
Coutinho, de Washington, e Duda Teixeira
Prevendo
que seria sugado para o olho do furacão das investigações de
corrupção, o empresário Joesley Batista passou a gravar todos os
interlocutores com os quais vinha mantendo conversas sobre pagamento
de propinas e outros delitos. Dessa forma, ele inverteu a lógica das
160 delações premiadas firmadas desde que a Lava-Jato começou,
há três anos.
DELATADO - Blatter, ex-presidente da Fifa, ganha um banho de dólares falsos em protesto realizado em 2015 (FABRICE COFFRINI/AFP) |
O
empresário apresentou-se voluntariamente, em março, para confessar
seus crimes antes de ser preso, cenário que ele e seus advogados
consideravam inevitável. O conteúdo dos áudios foi suficiente para
convencer os procuradores de que Joesley tinha potencial para
conseguir ainda mais provas.
Dono
de um assento privilegiado nas relações promíscuas entre o poder
econômico e o poder público no Brasil, Joesley aceitou atuar como
um agente infiltrado. Além de contar o que sabia — como acontece
nas delações —, ele passou a colher provas, dentro do que a lei
brasileira define como “ação controlada”. Trata-se de um
expediente investigativo usado em diversos países. Nos Estados
Unidos, é o principal recurso para desbaratar quadrilhas de
narcotráfico, tanto que é elemento central de diversas tramas de
Hollywood e da TV americana.
Com
o conhecimento de um juiz, os investigadores acompanham o
funcionamento da organização criminosa, permitindo que ela siga
praticando crimes, como forma de angariar mais provas e ampliar o
espectro de conhecimento sobre os envolvidos nos atos ilícitos.
As
informações coletadas por Joesley sob a supervisão da Polícia
Federal consistem na primeira ação controlada feita no âmbito da
Lava-Jato e, segundo um delegado da PF, servirão como ponto de
partida para uma série de investigações, capazes de enredar
centenas de agentes públicos.
-Veja /
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