segunda-feira, 4 de junho de 2018


Pai do jogador Walter saiu para comprar cigarros e sumiu; sua roupa foi achada no lixo

José Amaro saiu para comprar cigarros e sumiu, ele é pai do atacante Walter, ex-fluminense. Foto: Divulgação


Um longo mistério envolve a família do atacante Walter, que já passou pelo Fluminense e hoje joga na segunda divisão do futebol brasileiro pelo CSA, de Maceió, Alagoas. Seu pai, o aposentado José Amaro Ferreira está desaparecido desde que anunciou, no sábado de carnaval, que sairia de casa para comprar cigarros e nunca mais voltou.

Naquele dia, por volta das 19h30, José estava na casa da mãe de Walter, perto da praia de Boa Viagem, no Recife. Os dois são separados desde que Walter tinha 12 anos, mas sempre mantiveram uma relação amistosa. Assistiam aos desfiles de carnaval pela televisão quando José afirmou que desceria do apartamento para procurar uma loja que vendesse cigarro.

José tem 69 anos. Edith Maria, de 61, tentou demover o ex-marido da ideia, mas não conseguiu. O pai de Walter não voltou no domingo, nem na segunda. Preocupada Edith telefonou a um de seus filhos para saber se ele tinha notícias. Não tinha. Na terça-feira, dia 13 de fevereiro, a dona de casa foi à delegacia registrar um boletim de ocorrência.
Procuraram em hospitais e no Instituto Médico Legal, mostraram fotos de José, apelidado de "Boy", a moradores dos locais onde ele poderia ter passado, mas encontraram poucos vestígios.

Quase quatro meses depois, os policiais da delegacia de desaparecidos do Recife não têm muitas informações sobre o paradeiro de José Amaro, que trabalhou a vida inteira na limpeza pública da cidade.

"A Polícia Civil de Pernambuco informa que instaurou inquérito para apurar o desaparecimento de José Amaro Ferreira", escreveu a corporação em nota à reportagem. "De acordo com informações preliminares colhidas ao longo da investigação pela Delegacia de Desaparecidos e Proteção à Pessoa (DDPP), ele teria sido visto pela última vez em um bar na comunidade do Bode, no bairro do Pina, zona sul do Recife. A Polícia também fez buscas por José Amaro no Instituto de Medicina Legal (IML) e nos hospitais de Pernambuco, mas ele não foi localizado. O inquérito está sendo conduzido pelo delegado Ian Campos, que continua realizando buscas para localizar José Amaro."

"O problema do meu pai é a bebida", disse Walter em uma entrevista por telefone de Maceió. Em abril o atacante que tem contrato com o Porto de Portugal resolveu rescindir seu empréstimo ao Paysandu, de Belém do Pará, para fechar com o CSA, alegando que assim poderia ficar mais perto das buscas por seu pai. Maceió e Recife são distantes 257 km, uma viagem de menos de quatro horas em carro.

Acontece que, exceto por algumas incursões pela comunidade levadas a cabo pela própria Edith Maria, as buscas por José são praticamente inexistentes. Além dela e do dono do bar, a polícia não ouviu outra testemunha que pudesse dar mais informações sobre o caso. "A maioria dos desaparecimentos se resolve naturalmente com a volta da pessoa sumida", disse o delegado Ian Campos, responsável pelo inquérito. "Poucos desaparecimentos se convertem em crimes."
Mostrando a foto de José no bairro, Edith Maria e um dos irmãos de Walter conseguiram algumas pistas. Um conhecido da família disse ter visto alguém parecido com José Amaro caminhando pelas ruas com pedaços de papelão na mão, barbudo e com roupas rotas.

Vasculhando as ruas da região, Edith encontrou jogada na frente de um barracão e perto de um monte de lixo, a camiseta preta que José usava na noite em que sumiu. "Ela tava inteira suja e fedendo muito", disse ela, por telefone, durante uma temporada ao lado de Walter. "Mas tenho certeza que era a camisa dele. Como fedia muito, joguei fora."



A família recebeu também uma pista que parecia promissora: José havia sido visto em Ribeirão, uma cidade a 87 km de Recife. Edith conseguiu uma carona até o município. "Quando cheguei lá descobri que era trote", disse ela.

"A gente está tentando caçar ele", disse Walter antes de um jogo do CSA pela Série B do Brasileiro. "Mas a comunidade lá é muito perigosa, minha mãe fica com muito receio de ir lá sozinha. Meu pai é muito inteligente, sabe ler, o problema dele mesmo é essa questão da bebida. Eu acho que ele deve estar por aí, na rua."

Uma equipe jornalística, colocou em contato o atacante com o delegado Ian Campos, que gostaria de ouvir o filho pela primeira vez para ter mais informações que possam ajudar a encontrar o pai. Eles marcaram um encontro no Recife, mas, por causa da greve dos caminhoneiros do fim de maio, o atacante não conseguiu viajar.

Walter acredita que a polícia poderia solicitar imagens de câmeras de segurança da região onde José Amaro foi visto pela última vez. A polícia, por enquanto, não tem planos de fazê-lo.

Por Adriano Wilkson
Da Redação
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